Número de denúncias de violência contra idosos é crescente

O Brasil terá, em 2050, 172 idosos para cada cem crianças. Antes, em 2030, o País já será majoritariamente idoso. Os dados, atribuídos ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram destacados em audiência da Comissão Extraordinária do Idoso da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (13/4/16), para justificar a necessidade de políticas públicas para esse segmento. Com o envelhecimento da população, crescem também os números de violência contra os idosos. Na única delegacia especializada do Estado, em Belo Horizonte, as denúncias presenciais passaram de 2 mil em 2015.

De acordo com a delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento ao Idoso e à Pessoa com Deficiência de Belo Horizonte, Ana Patrícia Ferreira França, em 2012, a unidade contabilizou 729 denúncias presencias, número que aumentou para 845 em 2013 e para 1916 em 2014. “Também recebemos cerca de sete denúncias anônimas por dia”, acrescentou. Os crimes de maus tratos, como negligência, abandono e falta de alimentação, são os mais frequentes, mas há casos de ameaça, lesão corporal e apropriação de benefícios, normalmente por familiares.

A delegada ressaltou que os crimes acontecem não somente em famílias pobres, mas em todas as classes sociais. “Muitas vezes, os idosos se calam por medo de romper o vínculo com a prole. Infelizmente, não fomos educados para respeitar os idosos, e a polícia vai atuar quando alguma coisa já falhou”, observou. Ela reforçou a necessidade da denúncia, que pode ser anônima, pelo Disque 100 ou pelo telefone 181.

O deputado Isauro Calais (PMDB), presidente da comissão, lamentou que Minas tenha apenas uma delegacia, com nove funcionários, e que não disponha de mecanismos que facilitem as denúncias de agressão. “Hoje, 71% dos municípios mineiros não têm conselho do idoso”, exemplificou, ascrescentando que, ainda assim, é preciso denunciar, pelo meio possível. O parlamentar aponta que a comissão terá a tarefa de convencer o governo do Estado a rever isso. “Queremos que envelhecer em Minas seja motivo de felicidade e segurança”, afirmou Isauro, autor do requerimento para a audiência, junto com os colegas Geisa Teixeira (PT) e Glaycon Franco (PV).

PUC Minas apresenta projetos

As atividades da PUC Minas voltados para a população idosa foram apresentadas à comissão pela coordenadora do Projeto PUC Mais Idade, Anna Cristina Pegoraro de Freitas. A universidade, segundo ela, trabalha pelo empoderamento do idoso, para que ele conheça a legislação e os seus direitos e possa ter cidadania. “Envelhecer é uma conquista que deve ser comemorada, mas precisa ser vivida com dignidade, de forma integral”, argumentou

Cerca de 90 idosos participam, semanalmente, de projetos em unidades da PUC em BH e no interior. “São questões de movimento, para melhorar a mobilidade, questões da memória e cursos, como de informática, que aumentam a autoestima e a segurança”, exemplificou Anna Cristina. Os alunos também visitam idosos institucionalizados. E a universidade realiza fóruns sobre o direito do idoso que culminam com sugestões, algumas delas já trazidas para a ALMG.

Para a coordenadora do PUC Mais Idade, a solução é a educação, desde a infância, voltada para a valorização do idoso. Ela citou exemplos de projetos escolares que desenvolvem esse “comportamento intergeracional” e que incentivam a boa convivência das crianças e jovens com os idosos nas famílias. “Nossa sociedade vê o idoso como alguém que só perde. Mas o crescimento e o desenvolvimento são para todo o ciclo vital. É preciso qualidade na saúde e na educação do idoso, porque sonhos e desejos não são só dos jovens”, defendeu.

O deputado Cristiano Silveira (PT) lembrou que a maior expectativa de vida e o envelhecimento da população apontam também para a questão do emprego. “Com a inversão dessa pirâmide, vamos precisar da mão de obra dos idosos. Como lidar com isso? Nossa cultura é de que o idoso não pode fazer muita coisa”, desafiou. Anna Cristina ressaltou que 30% dos idosos brasileiros (a partir de 60 anos) continuam trabalhando, por uma série de razões. Cristiano citou, ainda, a conscientização ambiental, que se disseminou entre os mais jovens, como exemplo a ser seguido para a educação sobre o envelhecimento.

Pis/Pasep – O parlamentar também aproveitou para informar a liberação, pelo governo federal, do saque do PIS/Pasep para 4,6 milhões de brasileiros com idade igual ou superior a 60 anos. Segundo ele, serão injetados na economia R$ 7,4 bilhões.